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  • Foto do escritorJoão Alberto Gonçalves Salvador

Saúde mental: vamos falar sobre?

“A pior parte de ter uma doença mental é que as pessoas esperam que você se comporte como se não a tivesse”
(Artur Flack)¹



Em meio às incertezas a que somos submetidos ao longo da vida, vivenciamos emoções e sentimentos, alguns positivos outros negativos. Por vezes passamos por situações que proporcionam sentimentos de alegria e contentamento, como um relacionamento sadio, o nascimento de um filho ou trabalho novo, mas também somos levados ao sofrimento, diante de perdas, desilusões amorosas ou adoecimento. Manter um estado de equilíbrio psíquico e emocional, independentemente das experiências vividas, sejam elas positivas ou negativas, é o que chamamos de Saúde Mental.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), Saúde Mental é “o estado de bem-estar no qual o indivíduo realiza as suas capacidades, pode fazer face ao stress normal da vida, trabalhar de forma produtiva e frutífera e contribuir para a comunidade em que se insere “, ou seja, um estado onde o indivíduo mantém o equilíbrio emocional, diante de qualquer fator externo, seja este positivo ou negativo. Trata-se de uma visão ideal, que não é um consenso mesmo para a OMS, por não se levar em conta a subjetividade psíquica e biológica do indivíduo, bem como fatores ambientais.

Na sociedade atual, onde o ter sobrepõe o ser, onde uma selfie vale mais que mil vivências, onde o julgamento atropela a empatia e ainda se discute, entre saúde e economia, em meio a uma pandemia, o que é mais importante; as pressões do dia a dia se intensificam a ponto de se desestruturar o ego. Em tempos de Covid-19, onde um simples abraço representa risco de morte, o fantasma do desemprego, a expectativa de crescimento ou retração da economia, se a vacina vai funcionar, se teremos um normal próximo do período anterior à pandemia, inevitavelmente nos deparamos com transtornos como estresse, ansiedade, depressão, síndrome do pânico, entre outros. Nos isolamos, nos distanciamos, colocamos máscaras, lavamos as mãos (que já deveria ser hábito há muito tempo) e transformamos nosso lar em escritório e sala de aula. A vida acontece através das polegadas de uma tela plana (não a Terra): lives, call’s, reuniões, ensino, reunião de amigos e família, cultos religiosos sem fiéis e eventos esportivos sem torcedores. Nesse contexto, entramos em contato com um conceito, que muito antes da pandemia vem sendo negligenciada: a Saúde Mental.

Há muito vivemos sob uma pandemia de transtornos mentais como ansiedade e depressão, ao custo anual para à economia global, na casa do estratosférico 1 trilhão de dólares², segundo dados da OMS, com dados de 1993 à 2013³, bem antes da atual pandemia de COVID-19, o que podemos supor que a situação esteja muito pior no atual cenário, por conta da necessidade de isolamento/ distanciamento social e incertezas.

Diante do exposto, uma cultura de depreciação e negação do que é mental ou psicológico, onde afirmações nada empáticas como “isso não é nada... é psicológico!” reduzem o sofrimento psíquico presente nos inúmeros transtornos a quase nada, devido sua subjetividade, juntamente à necessidade de felicidade e produtividade a todo custo. Não podemos esquecer que cada indivíduo é único e o resultado de sua biografia e do meio onde está inserido. O DNA de um indivíduo pode determinar se uma pessoa irá desenvolver um transtorno mental? Sim, mas muitas vezes o “gatilho” pode ser acionado por situações externas, como uma situação traumática, p. ex., ou uma perda significativa, seja financeira, afetiva por rompimento ou falecimento de um ente querido.

Iniciei este post com uma citação do Coringa, cujo álter ego é o personagem Artur Flack, interpretado, de forma brilhante, pelo ator americano Joaquin Phoenix, pois retrata de maneira crítica, o descaso com a saúde mental. Nesse caso, em específico, fatores socioeconômicos levaram ao surgimento do famoso vilão. A título de informação, estatisticamente a criminalidade está amplamente relacionada a fatores socioeconômicos e raríssimas vezes à transtornos mentais, contrariando o senso comum.

Outro fator que contribui para o comprometimento da saúde mental é o estresse. Diante de necessidade de auto afirmação, onde o “ter” prevalece sobre o “ser”, muitas vezes corre-se o risco de abraçar rotinas trabalho estressantes, visando obtenção e/ou manutenção status e poder, principalmente financeiro. Assim, hábitos saudáveis, como um boa noite de sono, alimentação saudável, rotina de atividades físicas e relacionamentos e convívio familiar e social saudáveis, juntamente com o autoconhecimento, são essenciais para a manutenção de saúde física e, principalmente, mental.

Abraço à todos!






Notas:

1- CORINGA. Direção: Todd Phillips. Produção de Village Roadshow Pictures. Estados Unidos: Warner Bros, 2019.

3- Custos de internações, afastamentos, acidentes, suicídio (tentativas e atos consumados), etc.



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